CASA PARA A VIDA TODA

A escada é ampla e segura. Há previsão de poço para instalação de um elevador. As janelas são grandes e têm peitoris baixos, cerca de 60 cm para que se possa ter visão mesmo quando sentado ou deitado, os pontos de tomada nas paredes são acessíveis, mais ou menos na altura do assento da cadeira, o piso tem alto contraste, mas sem ofuscar, a porta do banheiro é ampla, na rota do dormitório com banheiro há luz de balizamento. Tais cuidados na hora de planejar a construção da casa já são adotados por arquitetos atentos aos princípios do Universal Design, um movimento que começa a chamar a atenção do brasileiro.

A proposta é eliminar barreiras tanto no interior quanto na parte externa da casa, propiciando, cada vez mais, conforto ao morador. É assim que casas européias, americanas e asiáticas estão sendo planejadas e é desses continentes que surge a preocupação da casa para a vida toda ou da casa do futuro, com infra-estrutura baseada na praticidade, segurança e adequação ao uso.

  “Um bom projeto deve permitir mudanças e adaptações, prevendo as diversas necessidades que o usuário possa ter em qualquer fase da vida”, afirma a arquiteta paulista Sandra Perito, que pesquisa e aplica o conceito do Universal Design em seus projetos há quatro anos, depois de ter estudado as tendências internacionais. De acordo com ela, um dos grandes diferenciais do projeto residencial com a aplicação dos princípios do Universal Design é que a casa estará apta a ser adaptada facilmente,  quando uma limitação se impor, permitindo a transformação dos ambientes sem prejuízo ou comprometimento do espaço.

 O projeto prevê, como exemplos, a colocação de barra de apoio no banheiro da residência sem o risco de danos na parte hidráulica; paredes internas passíveis de remoção para ampliação do ambiente; portas de banheiros mais amplas para a passagem de uma cadeira de rodas ou de uma pessoa que precisa de um assistente; colocação de tomadas a 46 cm do piso, ao contrário do padrão atual que é de 30 cm, evitando assim esforço desnecessário ou mesmo uma lesão, entre outros itens, que podem ser simples e acessíveis. A casa para a vida toda prevê o conforto dos moradores em qualquer fase da vida.

APLICAÇÃO DO CONCEITO

 A aplicação do conceito Universal Design não representa um custo maior no preço da moradia, porque os princípios estão inseridos na infra-estrutura da edificação.

 "A adaptação de um imóvel já construído nos padrões atuais é mais complicada, nem sempre é possível e o gasto tende a ser mais elevado", explica Sandra.

 “O desejo máximo de qualquer indivíduo está na aquisição da casa própria e na maioria dos casos é o bem de maior valor que as pessoas adquirem ao longo da vida. Nesse caso, a satisfação deveria ser total”.

 Para a arquiteta, o projeto de moradia segura tem de permitir a adaptação. "Quem nunca teve problemas na hora de acomodar um idoso por ignorar ou não prever quais são as limitações que poderiam surgir nessa fase da vida?

  "Tão importante quanto a acessibilidade é repensar os parâmetros dos projetos para o bem-estar de todos os usuários em qualquer idade ou estágio da vida".

 IDOSOS SÃO RESISTENTES A MUDANÇAS

 Pesquisas apontam que 80% da população com idade acima de 60 anos não quer mudar de casa. Segundo dados do IBGE, a população brasileira atual nessa faixa etária representa 9,1% da população total. A expectativa é que em 2020 essa população represente mais de 15%, totalizando 25,3 milhões de pessoas. 

 Se considerados ainda os dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), que 5% a 10% da população com mais de 60 anos sofre acidentes domésticos fatais (verifique tabela), tais cuidados no projeto da casa podem ser bastante significativos na redução desses índices, garantindo melhor qualidade de vida aos moradores.

 Como exemplos simples de mudanças e ajustes nos projetos residenciais, a fim de evitar acidentes domésticos, podemos citar: a instalação de dreno contínuo no box ou no banheiro para evitar o acúmulo de água e possível queda da pessoa ou ainda o  uso de maçaneta alavanca nas portas, que facilita o manuseio e evita o esforço desnecessário ou ocorrência de lesão. 

Pelo conceito Universal Design, acessibilidade está inserida no processo de planejamento da moradia, porém, a adaptabilidade seria a melhor definição para essa tendência, com ênfase no uso da casa com independência e igualdade por todos os usuários. “Estamos pensando na casa do futuro, com previsão de adaptabilidade, que deverá comportar e proporcionar bem-estar ao morador, o que nem sempre está ligado à alta tecnologia. Hoje, o idoso adapta-se à sua casa atento às suas limitações.

 A proposta é que para os próximos 20 anos esse quadro seja revertido, com habitações adaptáveis para atender qualquer necessidade, o que reforça a idéia de pensar no Universal Design como foco do projeto de construção residencial”, diz.

 NO MUNDO

 No Japão, a expectativa é de que em 2015, 25% da população esteja com mais de

60 anos. Por isso, já estão em prática os programas Ageing in Place e Design for all Ages, que prevêem modificações nas moradias existentes e novos parâmetros para as futuras construções.

No Canadá, o programa Flex Housing, desenvolvido por Tom Parker, baseia-se no apelo de mercado para criar padrões de residências que atendam todas as fases da vida de uma família.

 O Programa Lifetime homes na Inglaterra não é para necessidades especiais, mas para acomodar as mudanças que acontecem ao longo da vida. Não é propriamente desenvolvido com foco nos usuários de cadeiras de rodas, mas já é um passo para o Universal Design, pois é acessível, adaptável e flexível.

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